Transplantes de coração e pulmão de doadores infectados pelo HCV para receptores não-infectados

Transplantes de coração e pulmão de doadores infectados pelo HCV para receptores não-infectados

Woolley AE, Singh SK, Goldberg HJ, et al.

Fonte: N Engl J Med 2019; 380:1606-1617

Resumo

Base teórica: Coração e pulmão de doadores com viremia por hepatite C tipicamente não são transplantados. O advento de agentes antivirais diretos para tratar a infecção pelo vírus da hepatite C (HCV) levantou a possibilidade de aumentar substancialmente o número de doadores de órgãos através de transplante de coração e pulmão de doadores infectados pelo HCV para receptores não-infectados.

Métodos: Nós conduzimos um estudo envolvendo transplante de coração e pulmão de doadores com viremia por hepatite C, independente do genótipo do HCV, para adultos sem infecção pelo HCV. Sofosbuvir-velpatasvir, um regime antiviral de ação direta pangenotípico, foi preventivamente administrado para os receptores dos órgãos por 4 semanas, iniciando dentro de poucas horas depois do transplante, para bloquear a replicação viral. O desfecho primário foi um composto de resposta virológica sustentada em 12 semanas após completar a terapia antiviral para a infecção por HCV e sobrevida do enxerto 6 meses após o transplante.

Resultados: Um total de 44 pacientes foram incluídos: 36 receberam transplante de pulmão e 8 receberam transplante cardíaco. A mediana da carga viral dos doadores infectados pelo HCV foi de 890.000 IU/mL (variação interquartil 276.000 a 4,63 milhões). Os genótipos do HCV foram genótipo 1 (em 61% dos doadores), genótipo 2 (em 17%), genótipo 3 (em 17%), e indeterminado (em 5%). Um total de 42 de 44 receptores (95%) tinham carga viral detectável para HCV imediatamente após o transplante, com mediana de 1.800 IU/mL (variação interquaril 800 a 6.180). Entre os primeiros 35 pacientes alocados para completar 6 meses de seguimento, todos os 35 pacientes (100%, intervalo de confiança de 95% exato: 90 a 100%) estavam vivos, tinham excelente funcionamento do enxerto e carga viral para hepatite C indetectável 6 meses após o transplante. A carga viral tornou-se indetectável aproximadamente 2 semanas após o transplante e assim permaneceu em todos os pacientes. Nenhum evento adverso sério foi identificado. Mais casos de rejeição celular aguda com indicação de tratamento ocorreram nos receptores de pulmão com infecção pelo HCV do que em coorte de pacientes que receberam transplante de pulmão de doadores sem a infecção pelo HCV. Essa diferença não foi significativa após ajuste para possível confundidores.

Conclusões: Em pacientes sem infecção pelo HCV que recebem transplante de coração ou pulmão de doadores com viremia por hepatite C, o tratamento com um regime antiviral por 4 semanas, iniciado dentro de poucas horas depois do transplante, preveniu o estabelecimento da infecção pelo HCV.